quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O que é uma Arlapa?



É uma pergunta que volta e meia aterra na caixa de correio. Em Pechão é sobejamente conhecida, até porque existiam em quantidades bastante razoáveis. Para quem desconhece, aqui vai uma pequena achega.


Era utilizada essencialmente para desencardir roupa branca. Particularmente dos trabalhadores do campo, cujo pó, a terra e o suor entranhava-se na roupa interior. À noite, por força das circunstâncias, laivos de negrura conspurcavam os lençóis (não havia coloridos). Porque a partida para o trabalho era feita ao som do cantar do galo, e a chegada, já derreados, ao ritmo do piar da coruja. Não havia tempo, nem forças, para lavagens a fundo, nem banhos ao pormenor. Isso ficava para o fim-de-semana, depois de escolher um bom pego, e logo que o alguidar grande estivesse disponível.

Depois de uma boa dose de sabão azul e branco, a arlapa era muito bem esmigalhada e espalhada dentro da roupa. Meia hora de molho, era o tempo que os glutões levavam a devorar o encardido. O que dava um coloração esverdeada à roupa, e por vezes uma alergia às mãos. Depois de várias passagens pela água límpida da ribeira, tudo se transformava num branco imaculado. Como se cada lençol tivesse saído da caixa de um enxoval, ou as ceroulas acabadinhas de comprar na loja do Lopinhos. As mãos, essas, passavam à fase da comichão e da irritação, mas nada que o tempo e a indiferença não acalmassem.

Para dissecar o carácter anatómico, e mais algumas considerações sobre a dita cuja, é só um saltinho aos aposentos do meu conterrâneo Pechanense. Aqui.

7 comentários:

  1. Como Pechão carece de meios económicos, sugiro que se faça uma exploração de arlaperas; segundo parece, as arlapas são ricas em cloro, o que poderia dar origem a uma fabrica de lexivia porque não pensam nisso os economistas de Pechão? até porque é uma planta nativa da região

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  2. e a dor de braços de espremer tanta arlapa? esqueceu-se? a minha maria chegava a casa nem podia com a panela.

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  3. Não amigo zipirro!
    As arlapas seriam exprimidas com uma prensa industrial, retirado o bagaço, e o "produto acabado", pronto a engarrafar, e exportar para os mercados mundiais, está claro, que seria necessário ao lado, um pequeno laboratório para control de qualidade, e um gabinete de relações publicas, de resto... Era só facturar!

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  4. Espero que no presépio que vão fazer na casa museu tenha uma arlapeira perto do riacho.temos que preservar a tradição.

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  5. tenho uma novidade para vocês:
    Afinal isso que vocês chamam arlapas, A minha avó Markita chamava-lhes "tomates do inferno"
    Ela costumava advertir-nos para não brincarmos com aquelas bolinhas amarelas, por ser muito perigoso.
    Só ela é que podia manusia-las afim de branquiar a roupa, a qual ficava toda branquinha e bem cheirosa!

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  6. Sou de Olhão mas vivo em Vila Real de Santo António gostaria de saber se alguém sabe o nome cientifico da arlapa (planta).
    felicidades é um bom blog.
    obrigado.

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  7. Encontrei esta interessante planta pelas suas bolinhas amarelas e as flores azuis. O aspecto do fruto deixou-me receoso quanto a sua perigosidade. Recolhi um pequeno ramo que plantei num vaso. Em conversa com um amigo que reconheceu a planta como sendo uma ARLAPA, disse-me que nas Fontes Santas existiu uma em tempos onde as senhoras recolhiam as referidas bolas um substituto da lexívia. Interessante foi a informação de que as senhoras só apanhavam as necessárias para tratar a sua roupa e, quando alguma apanhava a mais era repreendida pelas outras.

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