sábado, 28 de novembro de 2009

O abegão



Outrora neste lugar, no recanto do abegão, muitos carros de mula estacionaram aqui. A maioria, empenados e estafados, tal como a vida dos pequenos agricultores, seus utilizadores.
Lugar de conversa reprimida e de leitura escondida. Quiçá, um olhar cúmplice como forma de aviso, transforma a palestra num silêncio mais cortante que a lâmina da enxó. Bastava essa força amparada por um sinal camuflado, e o jornal ou panfleto, eclipsava-se por entre taipais, varais, e rodas de madeira. Rodas de amigos num lugar de culto, em que a revolta e a esperança eram retalhadas, aplainadas, e unificadas com convicções vindas do coração.
Ao contrário das carroças que depois de passarem pelas mãos do Mestre Chico ganhavam nova vida, os trabalhadores rurais continuavam empenados e bebendo ilusões. Hoje, passado meio século, estão embriagados em promessas, e a caminho da extinção.

4 comentários:

  1. Não era só Pechão, todo o concelho de Olhão tinha muitos artistas,como o Mestre Chico.
    Quantos restam?O que ficou desse património?

    O que se fazia ontem às escondidas, as pessoas não fazem hoje às claras, não com medo da prisão, e das torturas, mas com medo de represálias, da parte de um polvo, cada vez com mais tentáculos.
    Onde até os jovens, para arranjarem emprego, tem de ser filhos dos novos senhores, que vestem a camisa rosa, ou laranja conforme a ocasião.

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  2. Neste local magnificamente descrito pela D.Arlapa,passei eu parte da minha infância,ouvindo histórias que a minha ignororância de criança não levava muito a sério,chegando depois a casa e perguntando ao meu pai a veracidade das mesmas para logo a minha mãe interferir dizendo que isso não eram conversas para se ouvir.
    Outros tempos, que recordo com imensa saudade,pois posso dizer que a oficina do mestre Chico Carpinteiro,foi para mim um complemento da escola que frequentava.
    Lia a Republica do dia anterior,questionava o mestre Chico ou o mestre Guerreiro sobre as duvidas que me assolavam o pensamento ou a pura ignorância sobre qualquer artigo vindo no jornal,e logo por eles era esclarecido.
    Aprendi com eles a ter um sentido mais amplo de vida e do mundo que nos rodeava.
    Depois de lido,no dia seguinte era eu muitas vezes que levava o jornal para a casa do Srº Teofilo,entregando-o á Srª Olivia e ouvindo da parte dela sempre um comentário,umas vezes de agradecimento,outras de reprimenda por não ter idade para andar a fazer «estas coisa» depois de feita a entrega lá seguia correndo até casa, onde me esperava uma boa fatia de pão caseiro passado pela manteiga comprada ás gramas na mercearia da tia Bia Hespanha, porque a venda era do Zé Neto, venda de copos de vinho, e lá seguia eu para o campo da bola na esperança que os mais velhos me escolhecem para uma das equipas, o que nem sempre acontecia.
    Valia-me nessas alturas o apoio e o carinho do Viriato,dando-me ânimo com palavras de incentivo e elogios futebolisticos á mistura.
    Depois do futebol,voltava a casa indo á procura do casaco do meu pai,caso ele já estivesse em casa para lêr O Seculo, que ele religiosamente trasia na algibeira do dito casaco.
    Voltando ao inicio, quero acrescentar que muito aprendi,tanto com o mestre Chico como com o mestre Guerreiro.
    Ás vezes lá se fazia uma travessura,que normalmente aconteciam quando o Alcindo estava presente, e então lá ouviamos uma reprimenda mas sempre com uma ponta de humor no final.
    Nunca me esquecerei do mestre Chico a dizer que-A Manuelinha pensava que tinha parido um moço, mas pariu o diabo...

    Osvaldo Granja

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  3. Osvaldo este teu comentario vale por um post.

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