Enigmático. Nunca ouvi o seu nome, nem mais de duas ou três palavras da sua boca. Apenas o conheci pelo “homem dos ovos” ou pelo “peidão”. Calcorreava os vales e montes de Pechão, a pé (a bicicleta era um luxo) a comprar ovos, para vende-los em Faro. Numa manhã de Novembro de 1946, enquanto a Maria Freira tentava impedir duas cabras atrevidas de banquetearem-se com os rebentos de uma jovem amendoeira, observou com curiosidade indisfarçável os movimentos estranhos que o “homem dos ovos” fazia junto ao Poço da Amendoeira.
Poisou os óculos de lentes redondas sobre o cesto de verga, e o chapéu sobre ambos. Alinhando-o ao muro num aprumo inusitado. Vagarosamente dirigiu-se ao poço, apoiou-se no gargalo e num fatídico alçar de perna, deixou-se cair, num suspiro abafado e inaudível. A Maria Freira, estupefacta, ainda correu desesperadamente, mas foi esforço inglório, contra o tempo e a gravidade. Apenas lhe restou dar o alarme. Chegou a GNR e os Bombeiros. Afastaram os mirones, retiraram o corpo, e com uma bomba extraíram toda a água do poço (esteve inactivo durante vários dias, sendo o abastecimento feito no poço do Lagar).
De crista em riste, detendo o monopólio do negócio, e com dezenas de galinhas a expelir ovos diariamente, nada fazia prever esta tragédia. Muito se especulou sobre tão desesperado acto, mas a verdadeira razão mergulhou e dissipou-se com ele. Assim, no ano em que o Joaquim do Carmo Guita nasceu, morreu o “peidão”. Verificou-se uma quebra na economia Pechanense, e um aumento no consumo de ovos, de nilheiros, e do colesterol.
Poisou os óculos de lentes redondas sobre o cesto de verga, e o chapéu sobre ambos. Alinhando-o ao muro num aprumo inusitado. Vagarosamente dirigiu-se ao poço, apoiou-se no gargalo e num fatídico alçar de perna, deixou-se cair, num suspiro abafado e inaudível. A Maria Freira, estupefacta, ainda correu desesperadamente, mas foi esforço inglório, contra o tempo e a gravidade. Apenas lhe restou dar o alarme. Chegou a GNR e os Bombeiros. Afastaram os mirones, retiraram o corpo, e com uma bomba extraíram toda a água do poço (esteve inactivo durante vários dias, sendo o abastecimento feito no poço do Lagar).
De crista em riste, detendo o monopólio do negócio, e com dezenas de galinhas a expelir ovos diariamente, nada fazia prever esta tragédia. Muito se especulou sobre tão desesperado acto, mas a verdadeira razão mergulhou e dissipou-se com ele. Assim, no ano em que o Joaquim do Carmo Guita nasceu, morreu o “peidão”. Verificou-se uma quebra na economia Pechanense, e um aumento no consumo de ovos, de nilheiros, e do colesterol.
É interessante a interligação das coisa, quando é posta assim numa maneira tão simples.
ResponderEliminarsó é pena é faltar aqui um elemento chave,(a causa que levou ao suicidio, que por sua vez originou a falta de um comprador para os ovos, que os produtores tiveram de consumir, e ganhar mais colesterol). E o Joaquim do Carmo Guita, onde é que ele se situa aqui? Será que veio preencher o lugar vago?
Amigo Lima
ResponderEliminarSinceramente desconheço as causas que o levou ao suicídio. Quanto ao Joaquim do Carmo Guita, lembro-me bem que nasceu a 22 de Novembro de 1946, ou seja, um dia depois da morte do homem dos ovos. Mera coincidência.
Obrigado pelos seus comentários tão perspicazes
Ora bolas!
ResponderEliminarE o Joaquim que sempre me disse que fazia anos a 28 de Novembro!!!...
Tudo é possível... é provável que ele não se lembre bem do dia em que nasceu!...
Pois. É a Alzheimer a fazer os seus estragos. O melhor é não levarem muito a sério tudo o que é escrito por aqui.
ResponderEliminarNão confundem! Eu é que estou a ficar cada vez mais decrépita. O Joaquim está bem e recomenda-se.
ResponderEliminar"o homem dos ovos" Excelente tema para uma novela! se eu fosse a Dª.Arlapa ia já correndo registar a patente, antes que algum usurpador de direitos ortográficos o faça. E o enrredo?
ResponderEliminarbucólico, mas acutilante a sena do suicídio faz estemecer as almas! Eu sei que não é ficção, é história mas o romance histórico também teve muito exito (lembre-se do Alexandre Herculano)
As vezes a realidade confunde-se com a ficção e vice-versa.
ResponderEliminartá engraçado sim senhor!
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