quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O bom governo

O Manuel Luzia era um homem bom. Ligado à família e ao trabalho. Desde o caminho do Afoga Burros até Bela Mandil. Com códigos de conduta insuspeitos, que o legado é sagrado, e o dinheiro não cai do céu. O “botelho” era o seu território, e a família o seu mundo. Perito no cultivo, e hábil na colheita. Mãos  calibradas no arremesso das sementes, semicerradas nas despesas, e bem fechadas a amealhar os rendimentos.
Conversador compulsivo, e entusiasmante, soltava instintivamente a expressão “eu tenho um bom governo” aludindo ao modo de gerir o seu universo. De tanto insistir nessa frase em regime de repetição, os amigos carinhosamente puseram-lhe a alcunha do “bom governo”. Ele respondia com um sorriso inocente, e um concordante abano de cabeça.
Em Pechão temos um governo de maioria. Mas não podemos esquecer que já tivemos um “ bom governo”, sem crises, nem férias. Que sem ter ido a votos, foi eleito por unanimidade.

8 comentários:

  1. Eu conheci bem o Manuel Luzia! Homem afàvel, amigo do seu amigo, tinha um bom sentido de humor, havia na sua boca sempre um graça para dizer, um pouquinho orgulhoso da sua pessoa, mas no bom sentido, tinha uma filha da minha idade, ainda chegamos a dançar juntos algumas vezes,ela provàvelmente nem se lembra já que eu existo. Só não sabia que lhe chamavam "o bom governo". Mas acho que o nome estava bem aplicado, porque ao contrários de outros governos que para ai há, sabia muito bem governar a sua casa, e a sua vida.

    ResponderEliminar
  2. Mas acha a d.Arlapa, que nos dias de hoje alguem podia estar a governar sem ser as votos?Eu acho, que com a vontade que todos teêm de ir para o poleiro, se matavam antes de irem
    Pingalhete

    ResponderEliminar
  3. Pingalhete

    Matavam-se a eles, e a nós. Ainda bem que todos têm que ir a votos. Essa é uma virtude da democracia. Agora reunir unanimidade em torno de uma pessoa, é que parece tarefa mais complicada.

    ResponderEliminar
  4. D. Arlapa, para além dessa virtude que a senhora cita,a democracia tem muitas outras, talvez até mais importantes,enumero algumas,o civismo,o respeito pelas leis do pais e a equitativa divisão da riqueza como fim de acabar com aqueles que vivem na miseria.
    Claro que não é com este partido Socialista que nos governa.

    Carlos Max

    ResponderEliminar
  5. Plenamente de acordo Carlos. Mas o Partido que nos governa não detém a exclusividade dessas premissas. Quem o antecedeu regeu-se pela mesma cartilha. Aliás, continuo a pensar que o problema está nas pessoas, e não nas siglas.

    ResponderEliminar
  6. Se me é permitido, manifestar aqui a minha opinião à cerca desta democracia, acho que o sistema não é mais que um viveiro onde se cria e proliféra uma classe parasita, corrupta, inutil, muito pròxima dos vampiros, que sugam todo o sangue desta sociedade já combaliente e moribunda.

    ResponderEliminar
  7. " a democracia é o pior de todos os sistemas, com excepção de todos os outros"

    Winston Churchill

    ResponderEliminar
  8. Nunca niguem descreveu a democracia portuguesa,
    como Guerra Junqueiro em 1896.

    "Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonha, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coiço, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; Um povo, um povo de catalépsia abundante, não se lembrando de onde vem, nem para onde vai;
    Um povo, enfim, que eu adoro porque sofre, e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência,como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
    Uma burguesia, civica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem caracter, havendo homens que honrrados na vida`íntima, descantam na vida publica em pontemineiras e sevendijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira, à falsificação, da violência ao roubo donde provem que na politica portuguesa sucedam entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no limoeiro.
    Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo, este criado de quarto do moderador, e este, finalmente, tornado absoleto pela abdicação unânime do país.
    A justiça, ao arbitrio da politica, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca
    -rôlhas.
    Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo âmbos do mesmo utilitarismo ceptico e pervertido, análogos nas palavras , identicos nos actos iguais um ao outro, como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo apesar disso, pela razão que alguem deu no parlamento: Não caberem
    todos duma vêz na mesma sala de jantar."
    Guerra Junqueiro 1896

    É, Foi, e Será esta a realidade da democracia Portuguesa!
    Qual a Solução? alguem perguntará.
    Eu direi que ainda não foi inventada,
    Mas acho que não estará longe de uma estrutura, tendo por base a familia, onde o seu chefe será o orientador, e responsável, depois associações de familias, interligadas a vários níveis até chegar ao tôpo.

    ResponderEliminar