sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Maioria silenciosa



Desde que a Béinha se aposentou, fiquei como a formiga quando lhe destroem o carreiro. Baralhada. Falta-me o amparo da familiaridade, e o aconchego da intimidade. A Xana não me conhece, e a Vanda é de outra geração. Por uma questão de equidade opto por revezar-me entre elas.
Hoje de manhã “À da Vanda” por entre “novos” Pechanenses circunspectos, e estrangeiros acometidos de dislexia verbal, pairou um silêncio inabitual. Sedenta de coscuvilhice, numa tentativa de tornar o ambiente mas fraternal, accionei o ferrugento desbloquear de conversa. Em vão. Ignoraram-me. Nem uma palavra de circunstância, muito menos um esboço de um sorriso. São gente que vem dos grandes centros urbanos, onde ninguém está preocupado com o vizinho, muito menos, com uma velha simplória e conservadora, que ainda vive no tempo das trevas.
Como vou saber, porque a tia da cunhada da minha irmã faltou à missa no domingo? E a prima do meu genro estará melhor dos diabetes? Ouvi uns zum zuns que a neta da minha comadre zangou-se com o namorado. Será verdade? Que arrelia.
Apesar de estar na minha terra  rodeada de vizinhos, senti-me uma estrangeira perdida, e estranhamente só. A realidade é que o meu mundo vai morrendo, e eu com ele.

3 comentários:

  1. É verdade D. arlapa já me tenho sentido assim

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  2. D. Arlapa

    Comprendo o seu lamento, mas terá que compreender que o seu lamento advem do desenvolvimento da nossa aldeia, já nada é como dantes, é o progresso.
    Não seja retrogada e saudosista.
    Proponho que faça um curso das novas oportunidades, daqueles do Socrates, pode ser que evolua e deixe de ser tão rabujenta para com os seus novos vizinhos.
    Socialize-se.

    Beijinhos, velha tonta.

    Peixanito

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  3. Caro amigo
    Eu até gosto de ver caras novas, mas às vezes sinto falta de um bom mexerico. Quanto às novas oportunidades, com a idade e as maleitas que tenho, só me resta inscrever e reservar um lugar naquelas “gavetas” construídas na parte nova do cemitério. Têm vista para o mar.

    Um dia temos de ir beber um chazinho para por a escrita em dia.

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