quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Primórdios do eu

Para quem tem curiosidade e conhecimentos sobre os seus antepassados, pode consultar e recolher, aqui, mais informação sobre a sua árvore genealógica. Os dados estão um pouco dispersos e, ainda não sei como especificar uma consulta. Mas vale a pena dar uma olhadela.

O João Norte teve a gentileza de enviar-me esta preciosa informação. Obrigado.


segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Ti Venturinha

No percurso Bela Mandil – Cascalho, e vice-versa, a Ti Venturinha, amparada pela sua dedicada e fiel serviçal, no carro de mula, com o seu inconfundível chapéu de feltro preto, segura as rédeas e as preocupações. O Tio Gil, na Zundapp vermelha em baixa rotação, no mesmo sentido e sempre pensativo. Um ritual que se prolongou no tempo e sobrevive, bem vivo, na nossa memória. As razões para termos este quadro bem nítido, são simples; pela simplicidade, a bondade de ambos, o apego ao trabalho e à família, ou, porque simplesmente como coleccionadores de virtudes, nos encantámos por eles.

Para agasalhar o passado e manter acesas as recordações, os últimos rebentos da árvore genealógica do Tio Gil e da Ti Venturina, plantaram aqui e aqui, as suas memórias. Boa colheita.

Foto - Perto dos três tanques, já tinha surripiado algumas laranjas ao Ti Gil e, mãos-cheias de amoras ao Cesário Brás. Agora, passados tantos anos, roubei descaradamente à mesma familia,  esta bonita foto plantada, nesta horta. 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

No Natal falta sempre alguém

Se há pessoas que sinto falta, é de ti. Então pelo Natal a dor no peito agudiza-se. Os bolinhóeis a boiar no óleo a ferver, as trutas prenhas de bata doce, e o teu ar atarefado ao comando da frigideira. Um ritual que nunca dispensavas.

Transpiravas, pelo calor e pelo nervoso miudinho, o medo de não ficar tudo na perfeição. Mas ficava. Porque tinhas a medida na mão, e a sabedoria no coração. Depois, vinham os fardos de alegria e de gula, que debulhávamos de boca cheia, enquanto o açúcar se esgueirava para os cantos da boca e o mel escorria por entre os dedos, e eu lambia. E tu sorrias. E afogavas os bolinhóies, numa tigela baça debruada a azul cheia de café preto.

Indefesa perante a melancolia, rumino a angústia, entrecortada com lágrimas vindas de uma ruga em forma de algeroz, engulo tudo, com uma tristeza que rasga e esventra-ma as certezas. E no silêncio entre o desgosto e a saudade, volta o travo amargo da realidade. E a dor no peito.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

na rota de gente boa (2)

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Falta de açúcar

Foto e receita dos beijinhos. aqui.

O meu primeiro encontro com o açúcar foi no tempo dos beijinhos, que a Sra. Cristiana (avó do Danilo) vendia na mercearia. Brancos, cor-de-rosa, ou azuis, derretiam-se mal os colocávamos na boca, e deixavam um doce desejo de outro, e mais outro. Uma guloseima.Como os beijos de verdade.

Lembro-me que foi no tempo em que Portugal, estava mais interessado em África do que na Europa, que senti verdadeiramente a falta do açúcar, da farinha e do arroz. As famigeradas senhas de racionamento foram um autêntico passaporte para a fome, para uns, e um salvo – conduto para o enriquecimento de outros.

O Natal aproxima-se e as trutas e filhós estão em risco. Razão tem a minha vizinha quando diz: “Vivemos tempos amargos e a falta do açúcar, não augura nada de bom”. Pois não, pelo menos para mim: coloridos ou a preto e branco, doces ou amargos,os beijinhos acabaram.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

As Cores do Natal


"Ainda no concelho de Olhão, Pechão assinala o Natal com a exposição dos presépios “Figurinhas” e “Searinhas”, no edifício da Junta de Freguesia. A pensar nas crianças, o Espaço Multiusos da freguesia recebe a peça de teatro “Aventura no Sótão dos Sonhos”, pela Oficina de Teatro da Casa da Juventude de Olhão, dia 19, às 16h00.

No dia 18, a Junta de Freguesia de Pechão e o Grupo Motard de Pechão fazem a distribuição de bens alimentares a famílias carenciadas da freguesia."Aqui.

No ano  passado foi assim.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Campanha do Advento

 (Desempregados), de 1934, do pintor argentino Antonio Berni
“Já esta a decorrer a campanha de alimentos deste Advento de 2010. Relembro que nos quatro domingos que precedem o Natal é pedido à comunidade paroquial que traga alimentos para depois serem distribuídos aos mais necessitados.

Neste tempo de crise, é urgente que cada um de nós se mobilize para esta campanha e ajude com aquilo que puder.

Assim para cada um dos domingos é pedido alimentos diferentes, mas também podem trazer outros que não estão na lista, o que é preciso é que se possam conservar sem ser ao frio e com um prazo de validade de pelo menos 4 meses.

1º Domingo: Massas, Açúcar…
2º Domingo: Óleo, azeite, arroz.
3º Domingo: Leite, enlatados, farinha.
4º Domingo: Bolos, leite… e o que quiserem mais trazer.

De avanço um grande obrigado a todos os que vão colaborar nesta campanha.Bem hajam!”

“A Ponte” nº62 – Notícias paroquiais
Quelfes – Siroco – Pechão
Padre Jorge de Carvalho

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

XXXI Corta - Mato do Algueirão (2010)






                            Para ver as legendas clique nas fotos.

Decorreu no passado sábado (4 de Dezembro) nos terrenos anexo ao Polidesportivo de Pechão a mais antiga prova do atletismo algarvio organizada por um clube, o Corta - Mato do Algueirão é uma organização do Clube Oriental de Pechão, prosseguindo assim o desenvolvimento e prática do Atletismo.

Ana Cabecinha do CO de Pechão e o Finlandês Marten Bostrom foram os vencedores nas principais provas, onde participaram cerca de 350 atletas em todos os escalões etários (de Benjamins A a Veteranos) em representação de Clubes Algarvios, do Alentejo e da região de Lisboa.

O Clube Oriental de Pechão, esteve em plano de destaque ao conseguir 5 vitórias individuais, resultando ai a vitória colectiva entre os 33 clubes participantes.

A atleta da casa Ana Cabecinha completou os cerca de 3km em 10.53 a prova decorreu dentro da normalidade para a Ana, isolando-se logo após o 1ºKm mantendo a vantagem até final sem forçar muito; Na 2ª posição classificou-se Eliza Cruz (Casa Benfica de Faro) 11.14; No 3º lugar ficou Fiona Gonçalves (Praia Falésia) 11.17 sendo a 1ª Veterana, a 4ª na geral foi a Júnior Rita Guerreiro (NDC Odemira) 11.25; Anabela Moreira (CD Quarteira) chegou na 5ª posição na geral (2ª Veterana) 12.13; seguiu-se Marta Santos (Núcleo Sportinguista de Faro) 12.32 sendo a 3ª Sénior.

A prova masculina contou com um bom lote de participantes, entre os quais os três atletas Finlandeses que ocuparam as três posições do pódio, os atletas encontram-se a estagiar no Algarve com vista ou Europeu de Cross, Marten Bostram (15.25) levou a melhor sobre os seus colegas Joonas Harjamaki (15.51) e Jonas Hamm (16.03), na 4ª posição na geral ficou o Júnior Emanuel Loureiro (Maratona CP) que levou 16.08 para completar os cerca de 5,1km do percurso, na 5ª posição (4ª sénior) classificou-se Michel Valente (CR Alturense) 16.29

Em simultâneo decorreu o 5º Encontro Algarve – Beja nos escalões de Infantis, Iniciados e Juvenis, visando a aproximação dos jovens destas duas regiões, partilhando assim o gosto pela prática do desporto (atletismo) contando com o apoio da Associação de Atletismo do Algarve e Associação de Atletismo de Beja.

A prova contou com o apoio das seguintes entidades: Município de Olhão, Juntas de Freguesia de Olhão e Pechão, IDP - Algarve, IPJ - Algarve, Bombeiros Municipais de Olhão, Conselho de Arbitragem da Associação de Atletismo do Algarve, Lusitânia – Seguros, Farmácia Olhanense e do comércio local.

Os vencedores Individuais:
Benjamim A Fem. – Juliana Guerreiro (NS Faro) Juvenil Fem. – Ana Catarina Dias (Odemira)

Benjamim A Masc. – Ivan Candeias (CO Pechão) Juvenil Masc. – João Caeiro (Alvito - Beja)
Benjamim B Fem. – Catarina Cunha (CO Pechão) Júnior Fem. – Rita Guerreiro (Odemira)
Benjamim B Masc. – Sérgio Manic (Caboverdianos) Júnior Masc. – Emanuel Loureiro (Maratona)
Infantil Fem. – Catarina Gabadinho (NS Faro) Sénior Fem. – Ana Cabecinha (CO Pechão)
Infantil Masc. – Tiago Epaminondas (CO Pechão) Sénior Masc. – Marten Bostrom (Finlândia)
Iniciado Fem. – Ouisal Khanfoudi (CO Pechão) Veterana – Fiona Gonçalves (Praia Falésia)
Iniciado Masc. – José Pereira (NS Faro) Veteranos – João Marques (CR Alturense)

Nota: Com excepção das Iniciadas (Rosário Silva – NAR Messejana) todos os vencedores dos escalões de Infantis, Iniciados e Juvenis foram também os vencedores no 5º Encontro Algarve – Beja


Classificação Colectiva do Corta-mato do Algueirão:
1º - C. Oriental de Pechão - 92 pontos
2º - N Sportinguista de Faro - 62 pontos
3º - C D Quarteira - 47 pontos
4º - Olímpico C Lagos - 44 pontos
5º - C D Faro XXI - 31 pontos
Classificação Colectiva do 5º Encontro Algarve - Beja:
1º - Assoc. de Atletismo do Algarve - 51 pontos
2º - Assoc. de Atletismo de Beja - 82 pontos


A Organização.
Pechão, 05 de Dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

“ Nas Mãos As Mãos”


Exmo(a). Senhor(a)

A Junta de Freguesia de Pechão tem o grato prazer de convidar V. Exa. para a inauguração da Exposição de Desenho “ Nas Mãos As Mãos”, de Paulo Serra (artista plástico natural de Pechão), que terá lugar no próximo dia 4 de Dezembro, na Galeria de Arte da Casa-Museu de Pechão, pelas 21h30.

Custódio Moreno
Presidente da Junta de Freguesia de Pechão

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Claro que te conheço!

 

Vi-te nascer. Foste concebido com paixão e és filho da vontade e da resistência. Acompanhei o teu crescimento, os tropeções, e os passos certos. Escutaste muitas promessas, muitas juras de amor, lamentos de corações desiludidos, e assomos de indignação. Lês-te nas entrelinhas e decifraste muitos silêncios.

 Mas tu sabes como são os desacertos da alma e a fraqueza humana. Bem sei que muitas vezes aconselharias prudência, e desejarias consenso. Mas o tempo esquece e o coração arrefece. Depois, de desilusões e indecisões, volta a fé e emerge a fidelidade. E quantas vezes a felicidade. E tanta que já deste.

Agora estás a abrir uma janela para o mundo. Fazes muito bem. Porque em qualquer lugar, tens amantes sedentos de informação e tens que alimentar essa afeição. Espero que não lhes doa a memória nem percam a paixão. Pelo Pechão.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ana Cabecinha 2ª Classificada na “Espada Toledana” (Espanha)

No regresso à competição a marchadora Ana Cabecinha do Clube Oriental de Pechão, obteve ontem (sábado) o 2º lugar no Troféu “Espada Toledana” a atleta completou os 5km marcha com o tempo de 22.24 sob um frio excessivo (cerca de 6ºC), participaram nesta excelente prova Espanhola 25 atletas.

A vencedora foi a atleta Espanhola natural de Guadix (Granada) Ainhoa Pinedo com 22.21 que desde o tiro de partida formou dupla com a atleta Olímpica do COPechão na frente da prova, as duas atletas mantiveram um ritmo bem elevado para esta fase da época, o “despique” deu-se até aos metros finais, arrebatando Ainhoa vantagem nos últimos 50 metros da prova, a atleta que representa AD Marathón estabeleceu assim um novo recorde do circuito, que pertencia à medalhada Olímpica Espanhola Maria Vasco com 22.23 desde 2007, Ana Cabecinha com o registo de 22.24 ficou a 1 segundo do anterior recorde, na 3ª posição, algo distante das primeiras chegou Sara Alonso (Alicante) com 24.33.

Foi um bom resultado para os objectivos que a atleta tinha neste regresso à competição, atendendo ao tempo que está a treinar e á fase em que estamos na época leva-nos a encarar o futuro com grande optimismo.

Desta também para a participação das Algarvias Rita Geirinhas (12.15) quarta nos 2km para Infantis e de Filipa Ferreira (15.30) terceira nos 3km para Juvenis, ambas atletas da Escola Tomás Cabreira (Faro).

No domingo, os companheiros de Clube de Ana Cabecinha, Cláudio Rodrigues e Luís Barbosa participaram no Cross “Espada Toledana”, o Cláudio Rodrigues classificou-se na 26ª posição na Geral (17º Sénior) e Luís Barbosa ficou no 27º lugar na Geral (18º Sénior).

Mais informações poderão ser obtidas no site da competição www.clubatletismotoledo.net
Pechão – 28 de Novembro de 2010
C.O.Pechão

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Também quero


Mão amiga recomendou-me este simpático e acolhedor Café. Se tiverem conhecimento de um estabelecimento em Pechão, que faça uma surpresa destas, avisem-me. Reservo uma mesa para mim, para o Lizard, Lima, Observador, a Vanda e todos os simpáticos comentaristas que queiram desfrutar. Podem ficar descansados que não vou cantar, mas, sou capaz nem que seja a tactear, de trautear algumas modas conhecidas. E para servir à mesa, um jeitoso como aquele que está atrás do balcão não ficava mal.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Sombreados de esperança


Os três sombreados a verde, indicam os poleiros que dão acesso a mais prestigio, e a jogar a um nível mais alto. É evidente que os Bonjes também perdem e os Porches avariam. Porque as surpresas podem aparecer de qualquer lado, há que estar preparado. Por isso, é fundamental os jogadores continuarem a meter força nas canetas e a bola na baliza. Não vá o Leão enfurecer-se com a fome de pontos e, saltar da reserva, ou, em Tunes, a rapaziada alinhar no transbordo das vitórias, e perderem-se nas contas dos pontos e nas encruzilhadas dos ses. E, como nós, queremos ficar sombreados e não queimados, pelo sim pelo não, convêm manterem-se afastados do Covil do Dragão.

Nova época

A marchadora Ana Cabecinha do Clube Oriental de Pechão, volta a competir após o 5º Lugar na Final do Challenge Mundial de Marcha, regressando a marchar no próximo dia 27 de Novembro no Troféu “Espada Toledana” na cidade de Toledo (Espanha) que é património mundial, è uma prova com muito prestígio no calendário espanhol, este ano realiza-se a XXIII Edição.

A participação da Ana Cabecinha em Toledo visa essencialmente voltar ao contacto com a competição, a prova de 5km aponta a melhoria de forma para as próximas competições nacionais e internacionais, nomeadamente o Campeonato de Portugal (Estrada) que se realiza na Vila da Batalha a 21 de Fevereiro de 2011, assim como as grandes competições da época, a Taça da Europa de Marcha em Maio, a ter lugar na cidade Olhão e para o principal objectivo da presente época o Campeonato do Mundo em Agosto (Daegu – Coreia do Sul).

A participação da marchadora na prova espanhola só é possível devido aos vários apoios, nomeadamente: do Município de Olhão, da ATA – Associação de Turismo do Algarve e da Lusitania Seguros.

Mais informações poderão ser obtidas no site da competição
Pechão – 24 de Novembro de 2010
C.O. Pechão

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Pechão nos mercados de Olhão (1)


Ao despontar os primeiros raios de sol, rumo a Olhão, começava a romaria de carros de mula, e burros, com as gorpelhas carregadas de ovos, batatas, favas, ervilhas, lentilhas, espargos, fruta, hortaliças, e frutos secos. Numa época de privações e provações, vender na praça era uma actividade lucrativa.

A tia Apolinária, foi a pioneira neste trajecto árduo e extenuante, mas, a necessidade e o gosto, compensava as dificuldades. Rapidamente foi seguida, pela tia Bia Aluía, pela Bia da Quinta, e a Maria Lona, conhecida pelos seus afamados espargos. Mais tarde a Tia Aponilária, incentivou, e convenceu  os dois genros, o José Lona, e o José Canário.

Em Janeiro e Fevereiro, era um aglomerado de pessoas em redor do José Canário, pois eram famosas as “toldas” cheias de resplandecentes griséus e favas. Dizia-se que vendia mais sozinho, que os outros todos juntos. Todos eram tratados da mesma forma, com cerimónia e orgulho profissional.

Toda a gente se conhecia, os vendedores já sabiam os gostos e manias dos fregueses, até a forma de pagar as  contas, tudo registado na memória. Tempos árduos, em que fins-de-semana e  férias, eram palavras completamente desconhecidas.

editado - 06/11/2007

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

“Reflexos”

O artista olhanense, Francisco Gomes está a expor trabalhos de pintura a acrílico sobre tela na Galeria de Arte da Casa-Museu de Pechão. A exposição está aberta de quarta a domingo, das 17h00 às 20h00, até ao dia 26 de Novembro.
Importa referir que Franscisco Gomes é um autodidacta na área artística. Desde que se deixou contagiar pela pintura já fez trabalhos a carvão, aguarela e mais recentemente dedica-se à pintura a acrílico sobre tela.
Intitulada “Reflexos” esta exposição é composta por doze quadros do artista.Daqui.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dia de folga

As excursões são práticas generalizadas das Juntas de Freguesias. Não sei se coadjuvados pela anafre como elemento propagandista do poder autárquico, ou por iniciativa própria. Podemos enumerar vários fonemas alegóricos ao título, como: passeio de idosos, seniores em passeio, ou turismo sénior, dependendo da imaginação e criatividade de cada um. A nossa Junta preferiu chamar-lhe “Programa de Turismo Social”, abrangendo assim outras faixas etárias. É um projecto com leituras múltiplas. Mas na vertente social penso que é uma mais-valia. Quem não concorda que atire a primeira pedra.
A adesão é grande e o entusiasmo enorme. Já tenho tudo apalavrado. Vou pelo convívio. Para esquecer as ralações, estreitar relações, mas sobretudo, por saber que existe vida para lá da dependência das rotinas domésticas.
Sobre a Autarquia tirar ou não dividendos políticos, é outra história. Cada um interpreta-a à sua maneira, ou da forma que lhe der mais jeito. Para mim, dia de excursão, perto da cavaqueira e, longe da esfregona, dos tachos e da roupa encardida, é como o dia em que me saltou a pedra do rim. Um alívio.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

A última viagem

O Lopinhos era um coração aberto e um avançado rápido. Tinha uma mota (juntamente com o João Granja foram das primeiras em Pechão). Foi o motorista do Mestre  Cassiano que treinou o Pechão durante três dias. Ao quarto renunciou, não pelos maus resultados da equipa, mas, assustado com a velocidade e com a forma como ele se deitava na curva da Nora Alta. 
Há tempos conheceu o seu pior adversário. Uma doença traiçoeira que, sem pedir licença infiltrou-se e fez-lhe uma marcação impiedosa. Começou por lhe tirar a velocidade, depois a vivacidade, e por fim a esperança. Ontem, foi mais cruel, tirou-lhe a vida.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

No Domingo de manhã...

...enquanto esperava pela Cristina, entretive-me a olhar para os apartamentos dos moradores (com algumas excepções) que fazem de Pechão um dormitório. Não ouvi  pio, nem vi vivalma. Nenhum sinal de vida.Portas e janelas fechadas, não vá uma fresta encaminhar um ruído ou, uma nesga de sol, para um despertar indesejado. É que resgatar as horas de sono extraviadas e, recuperar a fadiga acumulada, não se compadece com o chilrear dos passarinhos nem com a beleza do pôr-do-sol. Um sono tranquilo e despreocupado, funciona como uma doce vingança à ditadura do relógio. Até a Rua 25 de Abril contagiada pelo sossego, sem acção nem circulação, permanece em silêncio. Tal como os nossos vizinhos, parece descansar ou, ganhar novo alento para os dias de frenesim que se seguem.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O dia de todas as saudades

Um dia cinzento, a condizer. Anestesiados pelo ambiente sombrio e lúgubre e circundados pela proximidade da morte, olhamos sem ver. Enrolados na tristeza, olhamos para as fotografias desbotadas e engolimos carradas de angústia. E, enquanto a memória rebobina imagens dos nossos, sentimos um aperto no peito, seguido de um marejar nos olhos, de saudade, e da falta que nos fazem. 

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Má forma

Depois de três meses a enferrujar, devido ao calor e à preguiça, hoje de manhã voltei às caminhadas. Acompanhada da minha vizinha e de uns quilos que não pedi, enveredei pela vereda da baixa do Fantosga. Infelizmente, bastaram cinco minutos a passo de caracol, para ficar com as pernas em chumbo, o coração nas mãos e os pulmões na boca. Na ânsia de olear as articulações e actualizar informações, constatei o obvio. Estou velha.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

“Pechão está bem vivo e recomenda-se!”

Custódio Moreno, Presidente da Junta de Freguesia de Pechão.

Em entrevista ao JA, Custódio Moreno quer que Pechão seja reconhecido como um destino de referência, uma terra promissora e que luta com garra para manter a sua identidade.

Jornal do Algarve – A Freguesia de Pechão tem provado ter um grande potencial humano e associativo. Essa é a grande força desta freguesia interior de Olhão?

Custódio Moreno- Nos últimos anos temos apostado fortemente numa política de parcerias, vinculada através da assinatura de protocolos com as mais diversas associações e inúmeras entidades concelhias e regionais, agentes económicos e todos os movimentos que possam atrair mais-valia para Pechão, onde incluímos a Geminação com Morangis.
Um excelente exemplo da nossa dinâmica são as inúmeras valências concentradas no edifício da autarquia, nomeadamente: Posto de Correios, extensão do Centro de Saúde de Olhão, Gabinete de Aconselhamento, Espaço Net, a Ludoteca. Temos ainda acordos com os Ministérios das Finanças, do Emprego e da Segurança Social, uma pequena loja do cidadão que facilita muito a vida dos pechanenses.

JA – Quais os grandes desafios e projetos a que pretende responder a curto e médio prazo na freguesia?

CM – O nosso grande desafio passa por consolidar o trabalho nas áreas da Educação, da Ação Social, no apoio aos jovens e aos idosos. Por outro lado, a requalificação de equipamentos e de vários espaços da freguesia. Queremos continuar a dotar Pechão de uma rede viária de excelência e expandir as redes de saneamento a todos os cantos da freguesia. No próximo ano, vamos concluir a edificação da Casa Museu e da Galeria de Arte, ex-líbris para podermos receber quem nos visita e, ao mesmo tempo, preservar as nossas raízes.
Vamos edificar um Parque Infantil, um Parque de Merendas e um Espaço Aventura. Estas duas últimas obras já têm o projeto aprovado. Até ao final do mandato, queremos iniciar as obras de requalificação urbana da Ribeira de Bela Mandil. Ampliámos o cemitério e vamos fazer o parque de estacionamento.

JA – Qual a estratégia para trazer mais dinâmica à freguesia?

CM – Acreditamos claramente no turismo social como forma de promoção e desenvolvimento sustentado. A aposta passa por fazer desta terra um destino de referência, promovendo um conjunto de acontecimentos, com destaque para os programas de Animação de Verão, Natal e Ano Novo. O Festival de Folclore, Noites de Fado, Noites de Teatro, Cinema ao Ar Livre, e o Rock na Ribeira são algumas das iniciativas que todos os anos organizamos e que vamos reforçando com mais propostas de maior qualidade, fidelizando os pechanenses a participar e procuramos atrair novos públicos. Deste modo, projetamos cada vez mais Pechão. As Festas Tradicionais de Pechão, o Corta-Mato do Algueirão, as Comemorações do 25 de Abril são bons exemplos das nossas parcerias com o associativismo local e que mostram como Pechão está bem vivo e recomenda se!
[publicada na edição papel do Jornal do Algarve de 21 de Outubro de 2010]

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aquele olhar

Alheio ao fotógrafo e à posse, o Tio João, aproveitou a precisão do silêncio para ver e reter todos os pormenores da ginga. Atento ao momento e ao encantamento, o Emiliano olha embevecido, revelando um esgar inocente e um coração do tamanho da pala do boné.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Geração sofredora

Tia Albertina
Irreversível. Indiferente à velhice que lhe consome o corpo e atormenta a alma, continua a empurrar o carro de mão, cada vez mais perro, cada vez mais pesado. Não pelo peso, mas pela escassez de força. Ouve-se o ranger encarquilhado das rodas, e dos ossos, a pedir outro vigor que nunca surgirá. Curvada, passos lentos, enleados no cansaço e no sofrimento. Entre esgares de dor, prefere a resistência à abstinência. Tem sobrevivido entre alarmes, abismos, e demónios de juras falsas. Uma vida difícil. Cruel. Quem lhe apaga a dor? Quem lhe ressuscita o sorriso?

sábado, 9 de outubro de 2010

Quando os maus exemplos vêm de cima

Olhão é a pior câmara a pagar.
De acordo com a DGAL, no final do segundo trimestre deste ano havia sete municípios do Algarve com prazos médios de pagamento superior a 90 dias.
Olhão é a autarquia da região que surge em pior posição, com 274 dias. A situação tem vindo a agravar-se desde finais de 2008, altura em que demorava 59 dias a pagar.Correio da manhã 08/10/2010.Aqui.

Quando os políticos apenas olham para o seu umbigo, os juízes para o lado, e as autoridades observam impotentes, quem olha pelo povo?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Também sou contra

(...Deste o tempo dos Fenícios e Visigodos, fez-se uma estrada que liga a foz do Guadiana à do Gilão, e desta para a da Ribeira do Pechão e daqui para a do Rio Seco e a seguir para a de Quarteira...) Inês Correia
Ler texto completo aqui.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

As três gémeas

Foto - Danilo da Quinta

Que é feito delas?

Tão jovens. Quem não sente uma vontade enorme de ceder um afago ou apenas um miminho? Não sei os seus nomes, nem o porquê de serem três. Nunca lhes dirigi palavra, mas pelo aspecto parecem-me ainda imberbes. Ao contrário do que consta por aí que, há quem fale com as árvores, jamais ouve um sinal ou uma aproximação da minha parte. Uma rega, afofo de terra, ou um expurgo de ervas daninhas. Apesar disso, dos predadores e dos imprudentes, vão-se avolumando e subindo na vida.
Crescem e apareçam. Talvez um dia, se eu ainda me encontrar por cá me protejam do sol, com uma  sombra frondosa e fresquinha.Portanto meus amigos, se virem uma velhota embasbacada a olhar para as três gémeas, não façam troça. Provavelmente serei eu.

Editado - 06/10/2007

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sem horas

Um contratempo. Apesar de visível, o relógio da Igreja tecnicamente está morto. Depois de três anos de cadência certa e circular, os ponteiros esfumaram-se. Provavelmente, sentiram-se revoltados pela ditadura do relógio e passaram à clandestinidade. Ou, pura e simplesmente, eram débeis e sucumbiram às vicissitudes do tempo. Mesmo admitindo que estão guardados ou, em parte incerta, dos ponteiros não reza história. O que é uma pena. Porque sinto a falta deles e de uma missa em sua memória.

Relógio da Igreja

“No dia 24 de Agosto, festa litúrgica de S. Bartolomeu, foi inaugurado o mostrador do relógio da torre da igreja de Pechão. O relógio já tinha sido instalado há dois anos, mas só se podia ouvir as horas, então alguns empresários de Pechão e vários paroquianos decidiram oferecer à igreja o mostrador do relógio para que todos aqueles que passam no adro da igreja possam ver as horas. A Junta de Freguesia também colaborou nesta aquisição. Obrigado a todos os que participaram. “

Noticia publicada no Jornal “A Ponte” - Director Padre Jorge de Carvalho
Editado - 19/09/2007

Relógio da Igreja pensado em França

“Vai ser instalado no cimo da Torre sineira da Igreja de Pechão, o mostrador do relógio. Até agora só se ouvia as horas. A partir de Agosto vamos também poder ver, durante o dia, as horas no mostrador. À noite não é possível, pois não terá iluminação. O mostrador do relógio tem, 1,20 metros de diâmetro.
Este relógio, oferecido por vários empresários á Igreja, é a realização de uma ideia que surgiu na ida a França, do ano passado, para a assinatura da geminação de Pechão com Morangis.”
A Ponte - Ano V nº35 – Julho 2007
Editado 24/07/2007

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Os Pauliteiros na Universidade


É com um sorriso nos lábios e uma alegria imensa que vejo uma conterrânea, subir os tão difíceis como necessários degraus académicos. Mais, quando o faz, desbravando as nossas raízes e expondo-as aos olhos do mundo.

Com a permissão da Cirila Calé e a minha devida vénia, segue a sua tese na íntegra.

CULTURA POPULAR: PAULITEIROS
"Temos obrigação de salvar tudo aquilo que ainda é susceptível de ser salvo, para que os nossos netos, embora vivendo num Portugal diferente do nosso, se conservem tão Portugueses como nós e capazes de manter as suas raízes culturais mergulhadas na herança social que o passado nos legou." (Jorge Dias)
Docente: Profª Doutora Carla Sousa Discente: Cirila Silva

Introdução

“O folclore no Algarve tornou-se, ao longo das últimas décadas, um símbolo da cultura popular da região através da sua utilização no sector turístico, como meio de animação e/ou de promoção.” (Sousa, C. 1996: 12)


Desde a revolução industrial que praticamente toda a Europa mostrou preocupação em preservar o Património Cultural levando em particular os meios rurais a atribuírem uma importância ou valor inconsciente até então relativamente aos seus usos e costumes, por outras palavras, as suas tradições populares.

O Património Cultural pode ser apreciado sob diferentes formas, por exemplo, através do folclore, que muitas vezes é observado com alguma desconfiança relativamente à sua autenticidade devido à complexidade da relação que existe entre o folclore e o turismo.


Neste contexto, e na impossibilidade de estudar em pormenor todos os pontos relativos ao assunto abordado acima, a minha preocupação baseia-se em reflectir teoricamente sobre o que é o Património Cultural, o que se entende por tradição e o que é o folclore e de que forma este se circunscreve nos processos de mercatilização ou turistificação da cultura.

No que diz respeito ao estudo de caso, tenciono investigar/conhecer, na medida do possível, a tradição dos Pauliteiros de Pechão, pertencentes à freguesia de Pechão, começando por descrever um pouco a freguesia de Pechão e depois, relativamente aos Pauliteiros de Pechão, conhecer/compreender, quais as suas características, os seus significados e de que forma a população residente de Pechão se identifica(ou) com os Pauliteiros de Pechão.

Enquadramento Teórico

Património  Cultural

O conceito de património sofreu ao longo dos tempos reformulações, onde a concepção de origem estava única e directamente associada a propriedades transmitidas hereditariamente. No século XIX, com o intuito de impedir o vandalismo existente durante a Revolução Industrial francesa, foram criadas, pela primeira vez, condições apoiadas jurídica e institucionalmente de preservação dos monumentos históricos assim como estruturas romanas provindas de escavações arqueológicas. O património definia-se então como um conjunto de edificações, objectos e documentos de valor artístico ou histórico. No entanto surgiram polémicas acerca de monumentos isolados ou considerados no contexto do conjunto ambiental e ai passou-se a ter em conta não apenas o monumento mas também o que existe ao seu redor. Assim, já no século XX, acrescentou-se o termo histórico e desde então considera-se património histórico um bem móvel, imóvel ou natural, com valor significativo para uma sociedade, podendo ser estético, artístico, documental, científico, social, espiritual ou ecológico. Finalmente, em 1972, na XVII reunião da UNESCO acrescentou-se o conceito de lugares notáveis, denominados de património imaterial implicando da mesma forma uma nova denominação para o conceito inicial de Património, desta vez, Património Cultural.

A propósito de Património Cultural este começou realmente a ser tido em conta desde 1976, após a XIX Conferência da UNESCO, em Nairobi, onde foi recomendado a preservação dos conjuntos históricos considerando da possibilidade de homogeneização e aculturação promovidas pela globalização, surgindo desta forma uma preocupação de retornar e retomar os valores tradicionais. No entanto apenas em 1989, na XXV conferência da UNESCO, em Paris, o conceito de Património Cultural imaterial tem em consideração a cultura tradicional e popular, referindo tratamento especial às culturas que não são dominantes.

Posto isto, o Património Histórico passa a integrar o conceito de Património Cultural, conjunto de todos os bens, materiais ou imateriais, que, pelo seu valor próprio, devam ser considerados de interesse relevante para a permanência e a identidade da cultura de um povo, não abarcando apenas monumentos históricos, o desenho urbanístico e outros bens físicos (castelos, igrejas, casas, praças, conjuntos urbanos, etc.), dotados de expressivo valor para a história, a arqueologia, a paleontologia e a ciência em geral, assim como a experiência vivida que se traduz em linguagens, conhecimentos, tradições imateriais (a música, o folclore, por exemplo) e modos de usar os bens e os espaços físicos (pinturas, esculturas e artesanato, por exemplo). Segundo Pereiro, referenciando Cruces (2006: 1):

“Podemos falar em património cultural como aquela representação simbólica das identidades dos grupos humanos, isto é, um emblema da comunidade que reforça identidades, promove solidariedade, cria limites sociais, encobre diferenças internas e conflitos e constrói imagens da comunidade.”

No entanto Pereiro (2006: 2-3) alerta-nos para as diferenças entre os conceitos de Património Cultural e Cultura considerando o primeiro como a representação simbólica da segunda, no sentido em que cada indivíduo ou grupo de indivíduos reconhece um objecto ou conjunto de objectos como seu(s) e o(s) preserva estático(s) e a segunda com impossibilidade de patrimonializar e tudo se conservar, caso contrário não existiria qualquer evolução em relação aos nossos antepassados. Desta forma, “o Património Cultural é uma expressão da cultura dos grupos humanos que recupera memórias, ritualiza sociabilidades, selecciona bens culturais e transmite legados para o futuro.”

O Património Cultural é classificado tipologicamente em várias categorias: histórico, artístico, documental e bibliográfico, arqueológico, paleontológico, científico e técnico, e etnográfico.

Ao conceito de Património Cultural estão relacionados critérios como: escassez; bem limitado; singularidade; raridade e sobrevivência no tempo. A patrimonialização funciona como um seguro contra o esquecimento, como uma activação de lembranças que origina mais memórias pois para além de com o tempo se perderem determinadas profissões como o artesão, a ceifeira, entre outras, perde-se um conjunto de saberes importantíssimos, perdem-se os sons, os cheiros, os sentimentos do artesão/ceifeira assim como os seus mundos sociais.

Em 2000 a UNESCO cria a “Lista de Património Cultural Mundial Oral” e descreve o património imaterial da seguinte forma: "os usos, as representações, as expressões, conhecimentos e técnicas junto com os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes são inerentes que as comunidades, os grupos e nalguns casos os indivíduos reconheçam como parte integrante do seu património cultural. Este património cultural imaterial, que se transmite de geração em geração, é recriado constantemente pelas comunidades e os grupos em função do seu entorno, a sua interacção com a natureza e a sua história, infundindo neles um sentimento de identidade e continuidade e contribuindo assim para a promoção e o respeito da diversidade cultural e a criatividade humana" (UNESCO 2003, artigo 2).

O património imaterial pode expressar-se por meio das tradições e expressões orais, incluindo o idioma como veículo de património imaterial, das artes do espectáculo, dos usos sociais, rituais e actos festivos, do conhecimento e as suas relações com a natureza e o universo e das técnicas tradicionais e de artesanato.

Tradições

Para Hobsbawm (1997), à medida que as sociedades foram evoluindo, a tradição e a modernidade sempre coexistiram até um ponto em que as constantes mudanças e inovações do mundo moderno causaram uma demarcação nas características da tradição. Na tentativa de organizar de forma fixa e constante alguns aspectos da vida social, de dar continuidade histórica, por vezes artificial, surgem as “tradições inventadas”. Hobsbawm (1997) chega a diferenciar conceitos como “tradição” e “costume” no sentido em que a “tradição” tem como característica a invariabilidade e o “costume” define-se por uma similitude da tradição que, devido às inovações que ocorrem naturalmente, com o passar do tempo, obrigam a pequenas mudanças, estas no entanto não se podem desprender da exigência de ser idêntico ao antecedente.

As inovações ocorrem naturalmente do processo de globalização que afectam, seja por via da televisão, seja pelo rádio a vida local. No entanto, para Giddens (1991) esta relação é recíproca, não são apenas os aspectos globais que afectam a vida local mas, também o local que se manifesta no global. Segundo o autor as tradições não desapareceram mas sim foram reinventadas, esvaziaram-se de conteúdos e alternaram-se por experiências quotidianas de forma a fazerem mais sentido aos indivíduos. Desta forma Giddens (1997) aproxima-se do ponto de vista de Hobsbawm (1997) mas a diferença é que para Giddens (1997) as tradições não foram apenas inventadas mas como reinventadas constantemente.

Turistificação da Cultura

Nas sociedades pós-modernas e pós-fordistas, o turismo ganhou importância no sector de actividade económica, e a partir do momento em que se definiu e clarificou o conceito de Património Cultural, este adquiriu no mesmo instante um carácter produtivista ou mercantilista, não sendo apenas os produtos tradicionais o alvo deste tipo de turismo como também a cultura.

Nalguns casos, o turismo estimulou a revitalização do património cultural e das tradições (inventadas e/ou reinventadas) pois os turistas não querem ver apenas os monumentos históricos de uma determinada localidade como também conhecer os usos e costumes da população local. Noutros casos tem servido para inventar novas práticas culturais (sem tradição histórica) que depressa são tidas como “tradições” para uma melhor comercialização dos produtos turísticos.

Desta forma, Pereiro diz que o património cultural pode ser entendido:
“Como uma forma de produção cultural para “os outros” (ex.: turistas, mercado), que pode ajudar a solucionar o desemprego, a revitalizar o consumo e a atrair turismo cultural.”, ou ainda, ” … um meio através do qual os lugares convertem-se em destinos turísticos, (…) uma estratégia de distinção grupal e territorial que utiliza os bens patrimoniais como valor acrescentado no mercado.” (2006: 4).
Na verdade, graças a estas apropriações, muitas povoações sobrevivem e reproduzem-se sócio-culturalmente como centros de destino turístico, superando situações de pobreza.

Folclore

O folclore (Folk = povo; lore = saber), é entendido como uma parte integrante da cultura de um povo, de uma nação, e consequentemente parte integrante da cultura popular, que relaciona e projecta o que é antigo, os usos e costumes que são tradição dos indivíduos de um determinado local. Segundo a Carta de Folclore Brasileiro (1995) o folclore é um “conjunto de criações culturais de uma comunidade assente nas suas tradições, expresso individual ou colectivamente, e representativo da identidade social de dado país, região ou local” que pode ser verificado mediante, “a aceitação colectiva, a tradicionalidade, a dinamicidade, a funcionalidade”.

Desta forma, o folclore, com todas as suas apropriações, é um dos alvos dos turistas que procuram conhecer a cultura de um povo, isto é, as raízes sociais, etnográficas e antropológicas de um grupo de indivíduos de um determinado local.

No entanto, os indivíduos que hoje apresentam e representam as tradições da sua terra, são sujeitos também integrados numa sociedade moderna e de progresso, facto que não viabiliza a perda das suas memórias mas das identidades dos mesmos. Neste seguimento, para Guillaume:

“As classes sociais e as suas culturas específicas que outrora estruturavam firmemente a sociedade desvanecem-se para dar lugar a uma imensa classe média, a uma amálgama de grupos sem uma cultura comum bem definida. Para aqueles que já não possuem nem território nem identidade social própria, a única possibilidade que continua aberta é a reconstrução de “raízes”, de um espaço compensatório fictício no passado, uma pseudoutupia, numa tentativa de aí recriarem artificialmente as diferenças que o presente já não tolera”. (2003: 41)

Sendo o folclore, entre outras, um objecto de consumo e desejo turístico integrado no desenvolvimento local, regional e nacional é natural que muitas das representações sejam realizadas tendo em conta não apenas o autêntico, como também as necessidades e expectativas dos turistas. Os destinos turísticos tornaram-se lugares onde se fabrica o “autêntico” e segundo alguns autores, a espectacularização das danças folclóricas transformou-as em algo diferente do que eram quando “as pessoas dançavam sem saberem que estavam a dançar” e por isso a busca de autenticidade no palco é uma sonho condenado a fracassar.

O folclore nasceu no nosso país durante o Estado Novo que por sua vez procurou enaltecer a tradição e a rusticidade nacional desta época. As manifestações folclóricas durante o Estado Novo primaram mais pela estética e pelo aprimoramento plástico de “quadros etnográficos” do que pela reconstituição histórica rigorosa, não querendo isto dizer que não contenham genuidade, no entanto não podemos confundir o peixe colhido no mar com o que se adquire nos espaços comerciais (supermercado).

“Dentro do país, e com destaque para as áreas com forte presença turística, muitos enfrentam o dilema de ter de optar por um de dois modos de representação folclórica: um centra-se essencialmente na busca de autenticidade, outro no satisfazer do público turista” (Castelo-Branco e Freitas Branco, 2003: 18).

Segundo a Federação Nacional de Folclore, para que um grupo de folclore se defina como a representação dos usos e costumes de uma população deve conhecer a(s) história(s) do seu meio, realizar um trabalho de recolha e pesquisa, “in loco”, acerca dos mesmos referentes a um período compreendido entre o final do século XIX e o início deste século e tentar reproduzir com base na música, nos trajes e nos quadros de representação etnográfica a época a que se reporta.

Há em Portugal mais de 2000 associações culturais e recreativas de base local e regional que utilizam o adjectivo “folclórico” ou semelhante. O principal objectivo destes grupos é a figuração espectacular de danças e/ou cantares tradicionais num registo etnográfico. Muitas destas associações são constituídas por pessoas que têm o gosto pelo folclore mas que ganham o seu sustento de outras actividades. O mercado de exibição e consumo do folclore é essencialmente promovido pelas comissões organizadoras de festas locais e romarias, agentes de turismo e da indústria hoteleira, políticos locais, instituições municipais, regionais e nacionais e festivais de folclore e cortejos etnográficos.

Estudo de Caso - PECHÃO

O território que constitui hoje a freguesia de Pechão, 19,89Km2 (em forma quase rectangular), é povoado desde o tempo do domínio árabe, embora os primeiros documentos datem de 1593, ainda com estas terras a pertencerem ao termo de Faro. Só em 1823 foi integrada definitivamente no termo de Olhão, criada por desanexação de S. Pedro de Faro.

Segundo dados do INE, relativos aos últimos dois censos realizados, verifica-se que a freguesia tem cerca de 3000 habitantes, observando-se um crescimento de 20%, aproximadamente, relativamente aos valores obtidos no censo de 1991.

Relativamente à composição da população, abaixo estão apresentados dois gráficos que transmitem a evolução da estrutura etária da população residente em Pechão.


A destacar por um lado o aumento em idade activa, na ordem dos 7%, por outro lado a população mais jovem (até aos 24 anos) regista uma ligeira tendência para diminuir.

A principal actividade da freguesia ainda continua a ser a agricultura, com recurso às estufas, a pesca e a recolha da Flor de Sal nos moldes tradicionais, embora muitos dos residentes se dediquem a outras e diversas actividades.

Segundo a informação obtida nas páginas electrónicas da Câmara Municipal de Olhão:
“Pechão é a segunda freguesia mais antiga do Concelho, logo a seguir a Moncarapacho. Foi nesta freguesia, mais precisamente no Sítio de Bela Mandil, no Lugar da Meia Légua, que ocorreu um dos mais violentos e demorados combates entre olhanenses e franceses, em 18 de Junho de 1808. Pechão é uma terra que se afirmou pela sua irreverência contra o regime fascista de Salazar; inúmeros eventos marcaram a actividade dos homens, mulheres e jovens desta freguesia. Destaque para o acampamento de jovens vindos de todo o país em Bela Mandil, no ano 1947, com o objectivo de protestarem contra a falta de liberdade. (…) Na freguesia de Pechão podem ser visitadas a Igreja Paroquial em honra de S. Bartolomeu (séc. XVIII) e a sua envolvente onde se inclui a Capela dos Ossos. A Igreja destaca-se por se encontrar no ponto mais alto da localidade, onde se pode desfrutar de um bonita vista para a Ria e para o Mar. Sabe-se que em 1482 já existia a ermida de S. Bartolomeu de Pichão ou Pexão. Pode-se ainda visitar a Fonte Velha (1754), a Casa Museu, o Chalé de Bela Mandil e alguns edifícios de arquitectura regional. Das tradições mais antigas, desta terra de cultura, constam o Grupo de Pauliteiros de Pechão e a Dança da Misteriosa.”

PAULITEIROS DE PECHÃO

Não havendo (pelo menos que se conheça) registos da origem e implantação desta manifestação cultural, o que se sabe provém da lembrança dos mais idosos, como é o caso do testemunho obtido de Francisco Guerreiro1, um falecido residente da freguesia de Pechão e saudoso de muitos dos que residem, quando tinha 85 anos:

1 Francisco Guerreiro, filho de Francisco Guerreiro Júnior e de Esperança de Jesus Reis, ele operário, ela doméstica, neto de pequenos proprietários agrícolas, nasceu em Pechão, no Sítio da Igreja, a 29 de Janeiro de 1917 e faleceu no Hospital Distrital de Faro, a 17 de Março de 2004, aos 87 anos, estando sepultado no cemitério da terra que o viu nascer. Frequentou a escola até adquirir a 4.ª classe e por conta própria, através de leituras variadas, adquiriu conhecimentos de Geografia, História, Ciências e, mais tarde, de Sociologia e Política. Ciente da lacuna que representa a inexistência de um estudo de conjunto sobre a sua freguesia, publica, em 1989, a Pequena Monografia de Pechão, um trabalho sério e rigoroso em que, além de um conhecimento profundo da sua terra, evidencia apreciáveis qualidades de investigador.

“O Jogo dos Pauzinhos, como originalmente se chamava, tem origem marroquina e foi trazido para Pechão a seguir à primeira Grande Guerra, no início dos anos vinte, por um emigrante que por essas terras tentou a sua sorte. Foi esse homem, de nome Manuel Lopes, que embora não sendo natural da Freguesia de Pechão, casou com uma mulher da nossa terra, uma irmã do tio Zé Salero, pai do Zé Vitorino, quem introduziu e dinamizou o Jogo dos Pauzinhos. Esse jogo, assim como as tradicionais Danças de Pechão e o Combate dos Mouros, eram imprescindíveis no programa tradicional Festa de Pechão, na época denominada Vigília ou Vigilha de S. Bartolomeu, realizada impreterivelmente no dia 24 de Agosto.
Na sua origem os participantes eram homens, que utilizavam uns paus rijos e grossos escolhidos da melhor madeira possível, principalmente laranjeira ou os aros das rodas das carroças, de modo a produzir um som de qualidade.
O vestuário utilizado era composto, de forma alternativa pelos executantes, por calção verde, colete vermelho, camisa branca e barrete verde, tipo marroquino, com uma borla vermelha em cima, ou por calção vermelho, colete verde, camisa branca e barrete vermelho com borla verde. A música é de origem local, assim como a letra que se mantém desde os primeiros tempos, embora seja de admitir que a melodia tenha alguma influência marroquina. Nos primeiros anos do Jogo dos Pauzinhos, o acompanhamento musical estava por conta da própria banda de música que vinha acompanhar a procissão de S. Bartolomeu. A partir dos anos trinta/quarenta, os homens foram substituídos por miúdos, tal como os conhecemos actualmente, passando a chamar-se Pauliteiros, mas que, tudo indica, nada têm em comum com os conhecidos Pauliteiros de Miranda, a não ser o próprio nome. A música e letra não sofreram alterações, mas o acompanhamento deixou de ser feito pela banda, sendo substituído pelo acordeão ou por uma gravação. A indumentária também tem sofrido várias alterações ao longo dos anos, de acordo com o gosto e as tendências da época.
Ao longo destes anos de existência muitos têm sido os dinamizadores do grupo de Pauliteiros, mas deve-se referir dois nomes que muito fizeram pela sua divulgação: primeiro foi o mestre Joaquim Norte e depois o mestre Teófilo de Sousa, que durante várias décadas ensinaram a diferentes gerações a arte e o gosto pelo Jogo dos Pauzinhos.”
Francisco Guerreiro, 2002

Os poucos relatos orais que obtive, foram também de encontro com factos relatados por Francisco Guerreiro, os Pauliteiros de Pechão terão tido no início da terceira década do séc.XX. A cor das peças que compõem o vestuário utilizado na fotografia abaixo apresentada (lado esquerdo) assemelha-se ao descrito acima, neste caso, composto, por calça preta, cinto e laço de camisa verde, colete vermelho, camisa branca e barrete preto, tipo marroquino, com uma borla branca em cima. Provavelmente estas alterações são fruto de influências da modernidade que pouco a pouco vão alterando, de forma moderada algumas características dos Pauliteiros de Pechão. No que diz respeito à música, sempre se manteve a mesma, no entanto tocada com base em três instrumentos, acordeão, guitarra e bandolim por conterrâneos como é também exemplo a fotografia abaixo apresentada (lado direito) que, não sendo músicos de eleição, têm o dom de com toda a simplicidade, fazer com que cada nota alegre o coração dos Pechanenses.
Após uma paragem de 8 anos, os Pauliteiros foram reactivados pelo Clube Oriental de Pechão, em 2009 e louvados pelos residentes mais idosos que afirmam ”Porque são únicos, são nossos, e fazem parte de nós.” e ainda lamentam ter-se “perdido” a “Dança dos Velhos” assim como o “Combate dos Mouros” que alguns alegam que o primeiro emigrou e radicou-se definitivamente em Quelfes e o segundo por ter falhado a transmissão desta tradição, que juntamente com a referenciada “Dança dos Velhos” e os Pauliteiros “iluminavam a alma” de toda a população residente de Pechão, ao longo dos anos, na festa de Pechão.

Ainda há quem se lembre de alguns versos que os Pauliteiros pronunciavam durante as actuações, “à moda antiga”:


“Boa noite meus senhores
Passem todos muito bem
Viva a Festa de Pechão
E até para o ano que vem.”

“Viva a Festa de Pechão
Viva tudo em geral
Viva S. Bartolomeu
E o Clube Oriental”


O longo dos anos os Pauliteiros de Pechão actuaram não só nas festas de Pechão, anuais, em honra de S. Bartolomeu como na feira em S. Brás de Alportel e outras festividades ou cerimónias, como é referenciado numa notícia do jornal “Região Sul” do dia 29 de Maio de 2010.

Considerações Finais

De forma geral, o Património Cultural, inicialmente baseado nos monumentos, desde a segunda metade do século XX, sofreu um processo de mudança conceitual sendo que no 2000 a UNESCO criou a “Lista de Património Cultural Mundial Oral” definindo o património imaterial.

Foi também a partir deste momento que o turismo voltou as suas atenções para os usos e costumes dos povos provocando nestes, de forma quase recíproca, um desejo desenfreado de mostrarem ao mundo as suas tradições, que em outros tempos já existiam mas, de uma forma “inconsciente” ou com uma menos preocupação relativamente à “passagem do testemunho” como quem diz transmissão dos usos e costumes. Esta turistificação das tradições e dos produtos tradicionais fragilizou a certeza da legitimidade dos mesmos.

Os Pauliteiros terão tido início perto de 1922, segundo testemunhos de residentes da freguesia e desde então têm integrado as festas de Pechão em homenagem ao Santo padroeiro da terra, S. Bartolomeu, assim com têm integrado a vida dos Pechanenses.

Para além da inexistência de recursos sob o formato de papel acerca das origens dos Pauliteiros de Pechão, já mencionado ao logo do ensaio, a verdade é que também foi escasso o tempo para recolher junto dos residentes mais idosos testemunhos orais relativos ao mesmo, pelo que procurei encontrar fotografias e quaisquer outras informações relacionadas com os Pauliteiros de Pechão em páginas de internet (Junta de Freguesia de Pechão, Câmara Municipal de Olhão, Jornal “Região Sul” e blogs de residentes da freguesia de Pechão) e recolher alguns testemunhos orais de residentes mais jovens com quem tenho um contacto mais próximo que, caso pretenda avançar e aprofundar mais ainda o meu ensaio me sugeriram que contacta-se pessoas como: Padre José da Cunha Duarte, a residir actualmente (salvo erro) em S. Brás de Alportel; familiares do falecido Teófilo Sousa, o 11.º Presidente do Clube Oriental de Pechão com um mandato curto e fugaz mas indivíduo activo e atento que foi ensinando a arte, e treinado a destreza dos Pauliteiros, foi o verdadeiro propulsor, que pacientemente dirigiu gerações de rapazes a exibirem um espectáculo apreciado, “e único no País” segundo uma residente da freguesia de Pechão e devota dos Pauliteiros de Pechão, com anonimato, intitulada de “Arlapa Maria”; João Carlos Charneca, também um dos Presidentes do Clube Oriental de Pechão, o vigésimo, que graças ao seu esforço e dedicação os Pauliteiros viveram momentos de grande exuberância; entre outros.

Ficaram muitas questões no entanto por responder e outras por completar que até ver, poderiam ser alvo da minha tese de mestrado:
Quais as representações sociais dos Pauliteiros?
Quais as representações sociais dos outros face aos Pauliteiros?
Como é possível o grupo dos Pauliteiros de Pechão expressarem a cultura rural se é herdado por indivíduos urbanos?
Estaremos, actualmente, perante uma pseudo-cultura?