segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Geração sofredora

Tia Albertina
Irreversível. Indiferente à velhice que lhe consome o corpo e atormenta a alma, continua a empurrar o carro de mão, cada vez mais perro, cada vez mais pesado. Não pelo peso, mas pela escassez de força. Ouve-se o ranger encarquilhado das rodas, e dos ossos, a pedir outro vigor que nunca surgirá. Curvada, passos lentos, enleados no cansaço e no sofrimento. Entre esgares de dor, prefere a resistência à abstinência. Tem sobrevivido entre alarmes, abismos, e demónios de juras falsas. Uma vida difícil. Cruel. Quem lhe apaga a dor? Quem lhe ressuscita o sorriso?

2 comentários:

  1. Tia Albertina do Cachopeiro.
    Geração sofredora, como lhe chama a D. Arlapa, e muito bem.
    Quantos casos idênticos não haverá neste nosso país?
    Gente a viver duma pensão de reforma, que possivelmente não lhe dará para a compra de medicamentos que lhe atenue a dor.
    Mas a Tia Albertina ,sempre bem falante e disponivel para ajudar, procura no seu dia a dia afastar a imagem do demónio que por casa lhe passou.
    Gente de outra geração, por quem o estado, diz ser solidariamente responsável pela sua dignidade de vida, esse mesmo estado não o tem feito.
    Não é com pensões de reforma de poucas centenas de euros, que pessoas de idade avançada conseguem sobreviver.
    Haja da parte dos responsáveis, especialmente deste governo que se diz socialista, mais atenção, porque não se esqueçam que foi gente desta geração que também trabalhou nas piores condições para se têr o país que hoje temos.
    O Observador
    1 de Junho de 2008 18:23

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  2. Há em cada um de nós uma tia Albertina!
    nuns é visivel o "fardo", noutros, o "fardo" não está à vista, mas nem por isso é menos pesado!

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