domingo, 4 de outubro de 2009

Dúvidas e dívidas




A minha neta diz-me que o melhor professor que já teve foi o Alcino, e insiste para que vote nele. Realmente ela sabe na ponta da língua o nome dos Reis de Portugal, e outros nomes, mas esses, deve ter aprendido noutra disciplina mais vanguardista. Confesso que não conheço o Professor, mas partindo do princípio, de que não se deve rejeitar o que não se conhece, e atendendo a que já esgotou todos os elogios, estou tentada a fazer-lhe a vontade. Afinal não é que fazem todas as avós?

Gratidão é o que devo à Maria Joaquina, afamada modista, que me ensinou a arte do corte e costura, e nos entremeios, a dar pospontos nas dobras das incertezas, quando ainda cachopa as dúvidas se amontoavam como a roupa na canastra. Senti o sabor prudente dos seus concelhos, que muitas vezes me fizeram voltar à vida. A ela já não lhe posso agradecer, mas ao neto que herdou da avó aquela aura intuitiva, posso dar-lhe o meu voto. A avó ficaria satisfeita e o neto reconhecido.

Quando o meu homem estava de cama com uma broncopneumonia, o Dr. Mata Artur, e o Sr. Almeida levaram-me o resto das economias, e a ultima réstia de alento. Com o carro de mula esfrangalhado, o Chico Carpinteiro, atendendo às minhas prostrações prontificou-se a conserta-lo na condição de pagar o serviço quando pudesse. Até hoje ainda não pude. Lembro-me da sua figura todo emproado com um distinto fato azul, cravado com um cravo vermelho na lapela, e um sorriso no coração, aquando nas primeiras eleições após o 25 de Abril. Sei que esteja ele onde estiver, ficaria feliz e esqueceria a dívida caso eu votasse na sua bisneta. Mesmo sendo uma leiga na matéria, penso que a dívida já prescreveu, mas uma boa advogada faz milagres, por isso uma simples cruzinha evitaria recursos e falatório.

A professora universitária é um caso ímpar. Uma capacidade de adaptação admirável. Simpática, inteligente, sentido de humor, tudo o que se pede a um novo conterrâneo, o que valha a verdade não abunda. Embora ainda não domine na perfeição os limites cartográficos da Freguesia, já se entranhou e compreende os nossos anseios e necessidades. Estou muito tentada a dar o meu voto a esta erudita senhora. Deus queira que ela não leia este modesto blog. O mau estacionamento das vírgulas, a gincana na exposição de ideias e as fendas na construção das frases, devem diverti-la à brava, enquanto eu fico com as orelhas  arder. Vou propor-lhe um acordo: Eu voto nela e ela corrige os meus posts. Ah já me esquecia! Tem algo que eu adorava ter, mas infelizmente não tenho: coragem.

Ainda tenho uma semana para decidir. Passados tantos anos espero que alguém me volte a conquistar, nem que seja por um voto.

5 comentários:

  1. Excelente texto, continue D. Arlapa !!!

    ResponderEliminar
  2. Obrigada. Só Deus sabe as minhas (muitas) limitações.

    ResponderEliminar
  3. Magnifico D.Arlapa.
    Os meus sinceros parabéms.
    Retrata na perfeição o estado de espirito de muita gente antes de votar.

    O Opinador

    ResponderEliminar
  4. Vejam Só


    http://sendables.jibjab.com/view/HGC9TqPsqdEqTj1s





    Se os Gatos Fedorentos tivessem isto....

    ResponderEliminar
  5. Eu também gostaria de dar uma pequenina achega aos eleitores da freguesia. Sugire-lhes que votem com a cabeça e não com o coração! não votem em alguem porque é do PS do psd, ou do CDS. Votem na pessoa que julgem mais competente para defender os vossos interesses.Não porque è Loira,fala muito bem ou tem olhos azuis. Lembrem-se que essa pessoa è quem vai aplicar o nosso dinheiro, e tomar decisões que vão afectar a nossa vida.

    ResponderEliminar