segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A minha vizinha (3)




A saturação dos fins de dia 


No dia em que o amor está de férias e o bom senso meteu folga, a sereia virou adamastor. Saiu do carro, furiosa, a despejar carradas de ódio como se estivesse a iniciar uma declaração de guerra. Ele, cabisbaixo, apreensivo, a escolher cuidadosamente um lugar seguro para pôr os pés num terreno a abrir fendas. Acometida de uma embriaguez emocional, o martelar das palavras carregadas de crueldade sucediam-se, tão contundentes como embaraçosas. Estranhamente calmo tropeçando na sua culpa, tentou içar a bandeira branca, mas à primeira silaba recebeu como resposta, uma saraivada de balas em forma de hostilidade que lhe retirou qualquer hipótese de armistício. Desistiu, olhou para o relógio como se estivesse a cronometrar os disparos, e virou-lhe as costas, deixando-a a falar sozinha. Aturdido, ainda sem saber onde encaixar-se no vazio inesperado e já com a chave na fechadura, ouviu: “ Não tenho fome, vai comprar o jantar para os miúdos”.

7 comentários:

  1. Arlapa...velha marafada

    Isto é um filme já visto ou está na expetativa de ver?

    O olhovivo

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  2. ó tia arlapa essas discussões acabam sempre numa noite tórrida de amor

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  3. Mas como e que a dona sabe dessas coisas ?

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  4. Enquanto rego as flores ouço e vejo muita coisa. Sabe como são as mulheres, principalmente as mais idosas, pelam-se por uma boa fofoca.

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  5. Segunda-feira na junta de freguesia a noite novo episodio.
    não perca.

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  6. D. Arlapa, esclareça-me uma coisa, circula por aí a versão que a senhora censura alguns posts , será verdade??Não a tinha por isso atendendo até à tradição antifascista de si e de sua família.

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  7. É verdade. "A nossa liberdade acaba quando começa a dos outros".

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