domingo, 3 de novembro de 2013

A minha vizinha (4)



Quando a pontualidade é uma realidade, dez minutos são uma saudade e meia hora uma eternidade. Exasperada, cabisbaixa, como a pernada da oliveira debruçada sobre a casota do rafeiro alentejano. O tempo passa e ela passa-se. Enquanto as pernas tremilicam e o coração desata aos coices, mergulha a cabeça nas mãos, apavorada, como se naufraga-se numa ilha deserta rodeada de cartazes gigantes com a fotografia da antiga namorada dele.Nem pista nem sinal, apenas o maldito silêncio que lhe queima as entranhas e a leva à loucura e, até um melro estacionado numa laranjeira enfezada parece agourar. Não necessita de explicações nem de desculpas, precisa dele, como de um antídoto para a mordedura de uma cobra venenosa, porque ele é bússola que a atrai e a faz perder o norte.

Ei-lo que surge, e antes de esboçar qualquer palavra, já ela tinha voado para os seus braços.Resgatada do vazio e do medo, apertou-lhe o esterno e aninhou-se no peito. E ali ficou, olhos fechados, saboreando as lágrimas, o momento perfeito, a vontade de algemar–se cintura com cintura, e oferecer a chave ao melro que acabava de bater as asas e desaparecer. É o degelo. Tacteia-lhe as curvas do rosto, desliza pela recta do pescoço e beija-a com o menu completo, dá-lhe outro de sobremesa e leva-a às cavalitas para não perderem o apetite. Não me avistaram mas sabem da minha presença. Aferrolham a porta, fecham a janela e correm as cortinas. 

4 comentários:

  1. Tia Arlapa, você parece uma guionista de telenovelas da TVI.
    Deixe de lamber feridas e publique casos para a malta escrever uns disparates, dizer umas asneiras, chamar nomes anonimamente a outros...
    Dê-nos uma razão para sorrir.

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  2. Esta de guionista de telenovela está muito bem metida.
    Estas histórias com as vizinhas dá mesmo uma telenovela.
    Os meus parabéns ao anónimo de ontem.

    O Observador

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  3. naufragasse em vez de naufraga-se (linha 4)

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  4. Existem por aqui por Pechao, filhos de boas mães, que não tendo nada para fazer, ficam vandalizando os bens alheios.
    As madrugadas por aqui são muito movimentadas, e os putos rebeldes à muito que fugiram controle dos pais, se é que alguma vez o tiveram.

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