terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os rostos da alma



Está tudo lá. Sim, os rostos não escondem nada. Todos reconhecem a cartografia de cada ruga, cada linha, ou sulco. O franzido ao canto dos olhos denuncia as marcas de suor amontoado nas sobrancelhas. Os parênteses da boca são um fim em si mesmo: a concha protectora da família, sem jardins-de-infância nem lares para idosos. Para o confirmar, basta calcorrear as veredas na testa onde encontramos vidas apenas com dois propósitos, trabalho e família, sem agenda nem telemóvel. Seguindo o trilho das lágrimas, descobrimos suaves lembranças de beijos e abraços amorosos. Sim o amor, que é uma cegueira danada. Aquele vindo das entranhas embrulhado no nosso sangue. Indestrutível. O sombreado esconde um rosto entre as mãos a chorar às escondidas, sempre a fingir que não se passa nada. Tragédias e desgostos de mão dada. Mas é à noite, quando pousa o silêncio que tudo se agudiza: a elegia silenciosa, o vazio e as memórias, mas sobretudo as dores. Do corpo e da alma, onde pairam sombras negras que insistem em escurecer ainda mais uma existência amargurada. 

4 comentários:

  1. Como sempre mais um texto, indiscutivelmente bem escrito, que consegue transportar-nos e quase tocar o sofrimento desta gente!
    Os meus parabéns e estou completamente de acordo com o autor do texto
    Carmelina Reis!
    2870872013

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  2. Obrigada Carmelinda. Só um pormenor irrelevante, não é autor mas sim autora.E parabéns, porque apesar de longe, manténs-te interessada pela tua terra, ao contrário de muitos nunca renegaste as tuas raízes.

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    1. Maria Arlapa, peço desculpa por ter escrito autor e não autora, mas para mim, também é irrelevante ser autor ou autora, o que realmente estava em causa, era o que o texto me tinha transmitido!
      Não vi a exposição ao vivo, vi em fotos, porque estou longe sim, mas garanto-lhe que conseguiu através do texto transmitir-me um pouco do que o artista quereria que víssemos concerteza!
      Sempre me interessei por tudo que diga respeito à minha terra sim, às minhas raízes,à minha família, amigos e às pessoas de Pechão que aí ficaram, das quais me lembro com um carinho imenso e uma grande saudade.....Um dia, também ficarei aí para sempre!
      Carmelina Reis

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  3. Muito boa a obra deste grande artista olhanense que é o Jorge Timoteo.
    Parabéms.

    Osvaldo Granja

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